Mesmo sem autorização do autor, não resisto a publicar este texto que considero uma óptima base de reflexão. Talvez para repensar a educação das nossas crianças e jovens. Por eles e por todos nós.

O futuro é negro. 4 de Julho.
A qualidade da nossa linguagem determina a qualidade do nosso pensamento. Não é opinião minha. É a opinião, praticamente unânime, da ciência linguística moderna. Mas se a sapiência dos académicos não chegar, que tal a simples observação? Não é claro que o nível de literacia cai de ano para ano? Não é também claro que os petizes ficam, de geração para geração, mais ignorantes e bestiais? Não é sabido que lêem cada vez menos e cada vez pior, que falam e escrevem mal e, consequentemente, pensam ainda pior do que lêem? Não é óbvia a relação de causa e efeito? Ou precisam de exemplos concretos? Eis alguns, de memória: Hi5, Myspace, MSN, trance, techno, house, electro, lounge, hip-hop, chill out, Tokio Hotel, Buraka Som Sistema e Amy Winehouse. E a obsessão pelos telemóveis e todas as suas particularidades irritantes, que desperta em mim sentimentos pouco cristãos (imagino, com prazer, sodomizar meninos e meninas com os seus aparelhos preferidos). Para quem gosta de evidências, que tal a própria cultura juvenil como evidência? Não é prova mais explícita da imbecilidade reinante entre os petizes?
Mas se ainda não acredita que o QI médio da população escolar não ultrapassa o neanderthal, convidemos as evidências «duras». Segundo a Lusa, a média dos exames de Português do 12º tem vindo a decrescer: dos 11,6 em 2006, para os 10,8 de 2007 e para os 9,7 de 2008. Em dois anos, o nível de literacia desceu quase dois valores. Mas o que são dois valores? Ninguém entraria em alarme se a média descesse de um 18 para um 16, ou de um 16 para um 14. Mas o facto de ter descido abaixo dos dez assusta, não assusta? Não devia. Pelo menos não devia causar mais susto, ou susto diferente, dos 11,6 de 2006. Afinal, isso quer dizer que a compreensão e a expressão do português estavam no limite do aceitável. E que hoje estão ligeiramente abaixo do aceitável. Não houve mudança de fundo. Houve, somente, continuação: o lento e fatal afundar do barco.
Os jovens aprendem a pensar com o comando na mão, através de programas desenhados para entreter símios, capazes de apodrecer a mais saudável das massas cinzentas. São jovens que não lêem, e que por isso recebem toda a informação através de um televisor. Os pais não têm tempo para educar os filhos e construir uma carreira e, obrigados a escolher uma das duas, optam normalmente pela segunda. As escolas, não educam: aviam. De ano para ano os níveis de exigência diminuem, e mais meninos chegam ao ensino superior sem saber nada sobre coisa nenhuma, completa e absurdamente iletrados. As escolas, o ministério da educação e, por fim, o país fazem boa figura perante a Europa. Todos ficamos satisfeitos por termos permitido chegar ao ensino superior alunos que não deviam ter passado da quarta classe. O país, porém, continua na pia, à espera da descarga fatal.
E a descarga fatal virá, quando as gerações de analfabetos que nos empenhámos em produzir forem adultas. Porque se as crianças são mesmo o futuro, então o futuro é negro.
Rui Miguel Brás, in Blogue Orquestra do Tambor Flutuante
Se se interessa por este tema, pode consultar o meu
Blogue LUAR DE JANEIRO:
http://luardejaneiro.blogs.sapo.pt/49659.html
http://luardejaneiro.blogs.sapo.pt/50268.html
Manifesto da Revista Nova Águia
3. Morte e refundação de Portugal
Portugal vive um período de morte, que pode ser ou não de ressurreição. O nosso finisterra é hoje um novo Finis Patriae, como na visão de Guerra Junqueiro. O enfeudamento do estado português aos grandes poderes políticos, económico-financeiros e culturais dissolve-nos efectivamente noutras áreas de influência e soberania, preservando-nos apenas uma independência formal, para logro dos ingénuos.
Esta morte é também a da evidente indiferença, descrença e desorientação a respeito do sentido e destino da nação, mais visivelmente traduzido no alheamento e descrédito da grande maioria dos portugueses em ralação à classe política, que faz com que a abstenção seja enorme, as eleições ganhas e os governantes eleitos por maiorias francamente minoritárias em relação à totalidade da população, o que não deixa de questionar a sua legitimidade real. Há um fosso crescente entre os cidadãos e os seus supostos representantes, entre governantes que parecem apenas perseguir objectivos pessoais de poder, ou ser meros gestores e funcionários do sistema, e as nossas legítimas aspirações a termos nos postos de decisão pessoas realmente empenhadas no bem comum e com ideias de rumos mais dignificantes a dar à nossa vida colectiva.
Depende de todos nós que esta situação se altere. Portugal necessita de um grande desafio colectivo, que assegure o sentimento de solidariedade cívica sem o qual uma nação não pode existir e que não pode reduzir-se aos entusiasmos fugazes da expectativa de proezas futebolísticas. Há que refundar Portugal: “baralhar e dar de novo”, como dizia Agostinho da Silva.