Terça-feira, 30 de Novembro de 2010

Fernando Pessoa

 

(13 de Junho de 1888-30 de Novembro de 1935)

 Última fotografia, tirada por Augusto Ferreira Gomes

 

 

O Quinto Império

 

Triste de quem vive em casa,

Contente com o seu lar,

Sem que um sonho, no erguer de asa,

Faça até mais rubra a brasa

Da lareira a abandonar!

 

Triste de quem é feliz!

Vive porque a vida dura.

Nada na alma lhe diz

Mais que a lição da raiz -

Ter por vida a sepultura.

 

Eras sobre eras se somem

No tempo que em eras vem.

Ser descontente é ser homem.

Que as forças cegas se domem

Pela visão que a alma tem!

 

E assim, passados os quatro

Tempos do ser que sonhou,

A terra será teatro

Do dia claro, que no atro

Da erma noite começou.

 

Grécia, Roma, Cristandade,

Europa - os quatro se vão

Para onde vai toda idade.

Quem vem viver a verdade

Que morreu Dom Sebastião?

 

Fernando Pessoa, in Mensagem 

 


publicado por adormirnaforma às 12:22
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Terça-feira, 9 de Março de 2010

Mar português...

 Carlos Alberto Santos: O Mostrengo

 

O Mostrengo
 
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse, “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo,
“El-Rei D. João Segundo!”

“De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?”
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
“Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?”
E o homem do leme tremeu, e disse,
“El-Rei D. João Segundo!”
 
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes,
“Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
 
                                               Fernando Pessoa

 


publicado por adormirnaforma às 18:44
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Sábado, 6 de Dezembro de 2008

O italiano que ama Pessoa

 

 

No congresso de Fernando Pessoa, no final de Novembro, Mariano Deidda estava lá. Reconheceram-no e chamaram-no para o cumprimentar. Nos intervalos, tocaram música sua. Fernando Pessoa cantado em italaiano, com uma música que anda entre o jazz e a contemporânea. O que faz deste homem de estatura mediana, cabelo encaracolado e olhar vivo um arauto do grande poeta português?

Nascido na Sardenha, foi na juventude que o leu pela primeira vez: "Pessoa é o amor da minha vida. Era muito jovem quando o descobri e, encontrar-me com uma obra tão forte como a do Livro do Desassossego, foi como se tivesse as mãos a tapar os olhos e, de repente, os destapasse. Pessoa abriu-me os olhos. E comecei a ver o mundo de outra maneira. Do Livro do Desassossego passei a todos os outros e percebi então o universo pessoano."

Desde 2001, já gravou três discos com canções sobre poemas de Pessoa e vai gravar mais, agora, com a Mensagem. [...]

 

Há dois anos, Deidda foi a Beirute, ao Festival do Poema Cantado. Portugal não tinha representação, mas quando chegou a vez dele apresentaram-no como representando dois países, Itália e Portugal. Nos libretos, os libaneses traduziram para árabe um pequeno poema de Pessoa (ele mostra o papel com orgulho).

"Em Itália, Pessoa está a tornar-se um gigante. Já há 31 cátedras de literatura portuguesa, enquanto há quinze anos havia apenas três. Qualquer coisa está a mudar. Tabucchi abriu uma porta muito importante para Pessoa, claro. E eu abri outra, muito grande, que é e da música. Em Itália, dou centenas de entrevistas a rádios, televisões, jornais. Onde falo sempre de Pessoa e de Lisboa. Porque, embora cante Pavese, eu sou o cantor de Pessoa."

 

"Gosto de dizer às novas gerações, porque há cada vez mais jovens nos meus concertos, que leiam Pessoa. Porque a mensagem que ele deixou é muito positiva. A coisa mais importante que a humanidade deve entender é a capacidade crítica. E as novas gerações, que não têm consciência crítica, talvez a ganhem ao lê-lo. Digo o mesmo a professores universitários: leiam Pessoa."

O merchandising em torno do poeta não o escandaliza. "A poesia dele não fica menor por causa disso. O ser humano mais comercializado do mundo é Jesus Cristo mas ninguém se escandaliza com isso. Por que não Pessoa? Pessoa é um génio. O importante é que ele seja conhecido por toda a gente, em todo o mundo." E será o maior poeta universal daqui a dez anos, garante Deidda, com toda a convicção.

 

Sexta [5.Dez.2008]

 


publicado por adormirnaforma às 18:47
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