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Manifesto da Revista Nova Águia
3. Morte e refundação de Portugal
Portugal vive um período de morte, que pode ser ou não de ressurreição. O nosso finisterra é hoje um novo Finis Patriae, como na visão de Guerra Junqueiro. O enfeudamento do estado português aos grandes poderes políticos, económico-financeiros e culturais dissolve-nos efectivamente noutras áreas de influência e soberania, preservando-nos apenas uma independência formal, para logro dos ingénuos.
Esta morte é também a da evidente indiferença, descrença e desorientação a respeito do sentido e destino da nação, mais visivelmente traduzido no alheamento e descrédito da grande maioria dos portugueses em ralação à classe política, que faz com que a abstenção seja enorme, as eleições ganhas e os governantes eleitos por maiorias francamente minoritárias em relação à totalidade da população, o que não deixa de questionar a sua legitimidade real. Há um fosso crescente entre os cidadãos e os seus supostos representantes, entre governantes que parecem apenas perseguir objectivos pessoais de poder, ou ser meros gestores e funcionários do sistema, e as nossas legítimas aspirações a termos nos postos de decisão pessoas realmente empenhadas no bem comum e com ideias de rumos mais dignificantes a dar à nossa vida colectiva.
Depende de todos nós que esta situação se altere. Portugal necessita de um grande desafio colectivo, que assegure o sentimento de solidariedade cívica sem o qual uma nação não pode existir e que não pode reduzir-se aos entusiasmos fugazes da expectativa de proezas futebolísticas. Há que refundar Portugal: “baralhar e dar de novo”, como dizia Agostinho da Silva.

Lancei ao mar um madeiro
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do Sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo,
pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão esquerda benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão. Bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.